terça-feira, 10 de novembro de 2015

Simone de Beauvoir: Se ninguém nasce mulher, identidade de gênero é escolha?

A proposição de Simone de Beauvoir no Enem 2015.

   O Exame Nacional do Ensino Médio, ENEM, sempre dá o que falar, mas, neste ano, o motivo do falatório não foi nenhuma acusação de vazamento ou similar, mas sim o tema da redação e a presença de uma questão que continha certa proposição (talvez a mais conhecida) da feminista Simone de Beauvoir, cujas obras são leituras obrigatórias no que tange aos assuntos "feminismo" e "gênero".

   A proposição em questão (e a seguir) abre o primeiro capítulo, intitulado "Infância", do livro "O segundo sexo - volume II: A experiência vivida", cujo título original é "Le deuxième sexe: L'Expérience Vécue". Se existe um segundo volume, obviamente existe um primeiro, sendo ele: "Le deuxième sexe: Les faits et les mythes" ou, em Português, "O segundo sexo: Fatos e mitos".


Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psicológico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam de feminino. (BEAUVOIR. 1967. p.09)


   Então, primeiramente, é ridícula a afirmação de "doutrinação" via ENEM por conta da presença de uma só questão sobre um ponto de discordância de parte dos candidatos. Caso uns 90% da prova contivesse questões similares, então tudo bem, a afirmação teria sentido. Não tem, principalmente porque a prova trás uma variedade de autores e assuntos. Agora, no que tange à redação, pode até haver um quê de legitimidade na preocupação, mas somente depois de avaliados alguns pontos, mas isso fica para outro texto.
   Em segundo lugar, a questão em si não perguntava se o candidato concordava com a proposição, tampouco pedia para argumentar a respeito ou justificar o porquê de ela estar correta (ou não), e mesmo que pedisse, isso não seria o suficiente para dizer que se trata de uma "doutrinação" - de modo que a moção da Câmara Municipal de Campinas é absurda.





   Enfim, a questão basicamente deu o que falar por conta da confusão feita por alguns entre os conceitos de "sexo", "gênero", "identidade de gênero" e "papel de gênero" aliada à falsa bipolarização política existente na sociedade brasileira contemporânea (estou fazendo outro texto sobre isso), sendo tais conceitos que serão explorados aqui.
   Aliás, só resolvi fazer este texto porque eu compartilhei no Facebook uma imagem de uma candidata obviamente confusa sobre tais conceitos e procurei relacionar criticamente a proposição da Simone de Beauvoir com um experimento que comprova não ser possível criar um menino como se fosse menina, por exemplo, mas fui mau interpretado, como se a minha noção sobre os conceitos fosse a mesma da candidata, e recebi acusações diversas, entre comentários públicos, ocultados e enviados via chat.
   Teve até mesmo quem tentasse dar "carteirada acadêmica", apelando para a biografia de Simone de Beauvoir, como se ela, por todo o seu histórico acadêmico, renome e o escambau não pudesse ter as suas ideias e proposições analisadas, criticadas, questionadas e contra-argumentadas. Esse tipo de comportamento, aliás, é um exemplo de "argumento ad hominem", no qual a ideia ou argumento são relegados a um segundo plano, priorizando o ataque ou a defesa da pessoa que o emitiu. Mas enfim, vamos ao que interessa.



Sexo, gênero, identidade de gênero e papel de gênero

   Antes de tudo, é errôneo pensar que a confusão entre os conceitos se dê apenas entre pessoas consideradas como pertencentes à ala conservadora da sociedade, pois existe confusão e discordância entre os próprios defensores da coisa toda e o texto de Daniele Andrade (vide "Referências"), no qual ela discute sobre a confusão feita entre "papel de gênero" e "identidade de gênero", é um ótimo exemplo disso, mas também pode-se ver essa confusão em textos que pretendem ser informativos:


As identidades são características fundamentais da experiência humana, pois possibilita aos seres humanos a sua constituição como sujeitos no mundo social. O gênero refere-se à identidade com a qual uma pessoa se identifica ou se autodetermina; independe do sexo e está mais relacionado ao papel que o indivíduo tem na sociedade e como ele se reconhece. Assim, essa identidade seria um fenômeno social, e não biológico.
Uma pessoa cisgênera é aquela que tem sua identidade ou vivência de gênero compatível com o gênero ao qual foi atribuído ao nascer. Já uma pessoa transgênera é aquela que se identifica com o gênero diferente do registrado no seu nascimento. As pessoas trans podem preferir serem tratadas no feminino ou no masculino ou, ainda, não se encaixar em nenhuma dessas definições ( trans não binárias). (CUNHA. 2014. Grifos meus)


   Ou ainda, na matéria do Carta Capital, "Gênero: Uma construção social?", na qual certo representante do Instituto Brasileiro de Transmasculinidade (IBRAT), declarou que:


"Gênero é uma construção social que permite que a gente exerça um papel na sociedade. Particularmente, considero isso algo muito opressor, que define lugares a partir de posições de poder, quando nenhuma identidade deveria ser engessada". (PALHANO, Luciano. In: GOMBATA. 2015)


   Vejamos o que a psicóloga clínica, especialista em sexualidade, comunicadora social e sexóloga do programa televisivo "Alta Horas", Laura Muller, diz a respeito de tais conceitos. Sobre o sexo:


O sexo com o qual cada um de nós nasce, ou seja, masculino ou feminino, não é a mesma coisa do que o gênero que nos atribuem, embora um decorra do outro. Sexo é a diferença do corpo, as propriedades estruturais e funcionais que oferecem as possibilidades e as limitações do que podemos ser. Isso inclui os hormônios e as possibilidades da vida reprodutiva. Por exemplo, quem é do sexo feminino, se tudo estiver correndo bem, a partir da puberdade começa a amadurecer óvulos e pode engravidar. Já quem é do sexo masculino, se tudo estiver correndo bem, pode produzir os espermatozoides a partir da puberdade. Mas não pode liberar óvulos e engravidar. Esses são exemplos de possibilidades e limitações do sexo com o qual nascemos. (MULLER. 2013. p.13)


   Sobre gênero:


Já o gênero se relaciona com a identidade de cada um de nós. É a categoria social que recebemos ao nascer. Ou até mesmo ainda na barriga da mãe, quando os exames apontam "é uma menina", ou "é um menino", com base no sexo do corpo. Em linhas gerais, podemos dizer que gênero se relaciona ao conjunto de papéis que se espera dos dois sexos. Isso vaira muito de cultura para cultura, de momento histórico para momento histórico. E de pessoa para pessoa: cada um viverá o seu gênero à sua maneira, que é única. (MULLER. 2013, p.13)


   Noutras palavras, ao conceito de "sexo" estariam relacionados termos como "macho" e "fêmea", enquanto, ao conceito de "gênero", associa-se   termos como "homem" (ou "varão") e "mulher", mas é preciso ressaltar que o termo "gênero" também é sinônimo de "sexo" noutras áreas que não a da psicologia e das ciências sociais, motivo pelo qual se tem os termos "papel de gênero" e "identidade de gênero" constituídos por um substantivo ("papel" e "identidade") e um adjunto adnominal (em negrito) que lhe completa o significado e pode ser traduzido como "referente ao sexo".
   Ou seja: o "papel de gênero" e a "identidade de gênero" (ou "papel de sexo" e "identidade de sexo" ou, ainda, "papel sexual" e "identidade sexual") corresponderiam, respectivamente, a "determinado papel desempenhado na sociedade pelo indivíduo de determinado sexo" e à "identificação psíquica do indivíduo com determinado sexo, mas não necessariamente com o qual nasceu".
   Assim e basicamente, o que se entende por "papel de gênero" é a mesma coisa apontada por Laura Muller (e muitos outros) como "gênero", isto é, "a distinção social, que se daria por meio de coisas como o modo de falar, palavras e expressões passíveis de utilização, vestimentas, cortes de cabelo, jeito de andar e muitas outras coisas".
   Portanto e pretendendo facilitar a comunicação, a partir daqui, serão utilizados os seguintes termos com seus respectivos conceitos: gênero ou gênero biológico (significando "sexo" e dizendo respeito ao macho e à fêmea), papel de gênero (significando "gênero", como na citação de Muller, e dizendo respeito ao homem e à mulher) e identidade de gênero (significando a forma como o indivíduo entende a si próprio, isto é, se um macho se entende como homem ou como mulher, bem como se uma fêmea se entende como mulher ou como homem).



O papel de gênero e a identidade de gênero.

   Voltando ao texto de Daniela Andrade, uma das (muitas) coisas destacáveis é afirmação de que não se pode confundir papel de gênero com idade de gênero, sendo que é absurda a quantidade de pessoas autodeclaradas esclarecidas sobre o assunto que fazem essa confusão, tratando tudo como se fosse a mesma coisa e só criando uma imensa massa amorfa de confusão que ameaça destruir Tókio e o mundo. Chamem os Power Rangers, ou talvez os Combo Rangers, que seja.


Uma das coisas que eu acho mais deprimente em alguns textos feministas radicais é a ideia de que identidade de gênero não existe e tudo se resume a papel de gênero: não é que você é mulher, é que você quer se vestir como a sociedade determinou que só uma mulher pode se vestir, maquiar-se como só a uma mulher é permitido, usar o salto que só uma mulher pode, e por aí vai. (ANDRADE. 2015)


   Bom, não é a mesma coisa. Em teoria, o papel de gênero diz respeito a uma série de usos e costumes que variam no tempo e no espaço, enquanto a identidade de gênero diz respeito ao entendimento de pertencimento a um ou outro papel de gênero. Não é uma questão de deliberadamente escolher quais palavras, expressões, roupas ou corte de cabelo utilizar, como alguns querem fazer entender. Alegar isso é o mesmo que dizer que as pessoas transexuais estão mentindo acerca do seu auto-entendimento ou mesmo que elas são "sem vergonhas", por exemplo. Aliás, Laura Muller também trata desse assunto e esclarece algo que me parece ser fundamental, a distinção entre "transexual" e "transgênero" ("travesti" também):


Transexual - É o indivíduo que tem uma identidade de gênero oposta da designada no nascimento. Ou seja, pode ser a pessoa que tem o corpo do sexo masculino e foi criada como homem, mas se sente genuinamente uma mulher. E vice-versa. Nesses casos, muitas vezes se utiliza cirurgia e tratamento hormonal para adequar o corpo da pessoa ao gênero com o qual ela se identifica na essência.

Travesti - É a pessoa que se traveste. Ou seja, que se veste ou se disfarça com roupas do sex oposto.

Transgênero - É a pessoa que expressa uma identidade de gênero que não corresponde aquela que foi designada no nascimento. Por exemplo, pode ser a pessoa que tem o corpo do sexo masculino e foi criada como homem, mas se expressa na atualidade como sendo uma mulher. E vice-versa. É diferente de transexual: esta pessoa se sente, e não apenas se expressa, como sendo do sexo e do gênero oposto ao que lhe foi atribuído. (MULLER. 2013, p.14)


   Deve-se observar que esses termos são técnicos e que, na prática, o conceito de travesti é utilizado como sinônimo de transexual, tanto que se costuma utilizar o estrangeirismo crossdresser para o conceito expresso na citação para "travesti", isso podendo ser visto em matérias como "Sexualidade: Você já ouviu falar de 'crossdresser'?" e "Após virar 'crossdresser', cartunista Laerte possa pelado para revista". Note que, embora Laerte se declare bissexual, nem todo sujeito que se vista como o sexo oposto o será, conforme pode-se ver no texto "A era do pós-gênero?", que também trás o termo crossdresser utilizado como "pessoa que se traveste".



Laerte Coutinho.

   Lembrando que essa confusão também ocorre com os termos "transexual" e "transgênero", como pode ser visto na já mencionada matéria do Carta Capital, quando o responsável por ela faz o seguinte "esclarecimento" sobre os transgêneros: "(...) homens transgêneros (que nasceram mulheres e passaram por tratamento hormonal e/ou cirurgia para se tornarem homens)" (GOMBATA. 2015)
   Enfim, a grande questão passa a ser sobre quais usos e costumes são provenientes do biológico e quais são reproduções de uma convenção puramente social. Eu arrisco dizer que, sem dúvida alguma, os usos e costumes referentes às vestimentas e ao corte de cabelo são puramente convencionais, mas que outros, como o modo de andar, a maneira de urinar e o cortejo são oriundos de fator biológico sim - aliás, no primeiro volume de "O segundo sexo", Simone de Beauvoir fala sobre a iniciativa que o macho de várias espécies tem no que se refere ao cortejo e ao acasalamento, mas essa questão envolvendo outros animais será retomada posteriormente.


Escamoteando a proposição
ou
Biopsicossocial, David Reimer, Gatos e javalis

   Agora que gênero, papel de gênero e identidade de gênero já foram diferenciados, voltemos à proposição e ao que diabos Simone de Beauvoir quis dizer. Primeiramente, muito embora possa haver alguma confusão por conta da utilização de palavras como macho e fêmea na proposição, ela não afirma que as pessoas não nascem macho ou fêmea, mas sim trata do papel social da mulher.
   No caso, ela afirma que, isoladamente, os destinos biológico, psicológico e econômico não definem a forma assumida pela fêmea humana na sociedade, mas sim que os três juntos, formando um conjunto, constituirá tudo aquilo que se encontra representado pela palavra "mulher" e esse conjunto também pode ser expresso por uma só palavra: biopsicossocial.


Pode ser interessante ainda esclarecer mais alguns conceitos, como o de desenvolvimento biopsicossocial. O ser humano é um ser:

Biológico, ou seja, que tem um corpo, com um funcionamento específico e único. E que passa por um processo de desenvolvimento marcado por diversas etapas: infância, pré-adolescência, adolescência, fase adulta jovem, fase adulta madura e terceira idade.

Psicológico, ou seja, que tem uma psique, algo que pode ser definido como um mundo interno, composto por sentimentos, pensamentos, intuições, percepções, ideias, fantasias e tudo o mais em torno disso.

Social, ou seja, que está inserido em uma cultura, em um mundo externo, composto por um ambiente social, histórico, político, econômico, tecnológico. Esse ambiente nos constitui como seres humanos e, ao mesmo temo, é constituído (criado) por nós.

Portanto, o conceito de desenvolvimento biopsicossocial se relaciona a um processo contínuo de amadurecimento pelo qual todos nós passamos e que envolve todos esses aspectos da nossa vida. Ou seja, tudo o que a gente vive envolve estes três aspectos: o biológico, o psicológico e o social. (MULLER. 2013, p.17)


   Ou seja, diferentemente do que é possível ler em várias páginas no Facebook, ou comentários em determinados posts, bem como sites e blog, a questão referente ao papel de gênero não é uma coisa exclusivamente social, no sentido de ser desconexa de qualquer fator biológico ou psicológico - lembrando que boa parte do povo que trata do assunto faz confusão entre papel de gênero e identidade de gênero.



Essa imagem trás uma boa e sucinta explicação,
muito embora eu pense que a falta do papel de gênero aí
seja por ele talvez estar englobado na identidade de gênero.

   Em segundo lugar, essa interpretação feita por muitos "entendidos" no assunto (leia-se: o papel de gênero e/ou a identidade de gênero são coisas puramente sociais, sem qualquer relação biológica ou psicológica) é errada tanto porque nega a identidade de gênero de qualquer pessoa (i.é: nega o auto-entendimento de um macho enquanto homem ou enquanto mulher, por exemplo) quanto porque cria um sério problema que tem a ver com outros animais de hábitos sociais.
   A negação da identidade de gênero se dá porque, se aquilo que tratam por "gênero" não passa de um mero construto social, então ninguém nasceria com um entendimento de si mesmo enquanto a fêmea ou o macho que é ou acredita ser, mas sim seriam pessoas "agêneras", verdadeiras folhas de papel em branco nas quais o que se entende por "masculinidade" ou "feminilidade" seria impresso no decorrer da vida.
   Consequentemente, isso é o mesmo que dizer que as pessoas transexuais são mentirosas acerca dos seus próprios sentimentos e psique, escolhendo deliberadamente agirem de acordo com um determinado papel social. Noutras palavras, ante tal lógica, o discurso de algumas pessoas classificadas como conservadoras e retrógradas passa a ter sentido, sobretudo quando eles dizem e tratam a transexualidade como uma escolha individual ou o resultado de uma determinada criação - cabe aqui dizer que essas pessoas quase sempre relacionam a condição dos transexuais e a dos homossexuais como se fosse uma só. É interessante notar que a própria Simone de Beauvoir, em "O segundo sexo: A experiência vivida", diz algo similar em relação aos homossexuais:


Muitos meninos assustados com a dura independência a que são condenados, almejam então ser meninas; nos tempos em que no inícios os vestiam como elas, era muitas vezes com lágrimas que abandonavam o vestido pelas calças, e viam cortar-lhes os cachos. Alguns escolhem obstinadamente a feminilidade, o que é uma das maneiras de se orientar para o homossexualismo: "Desejei apaixonadamente ser menina, e levei a inconsciência da grandeza de ser homem até pretender urinar sentado", conta Maurice Sachs em Le Sabbat. (BEAUVOIR. 1967. p.12).


   Curioso, não? Mas é possível dar um desconto porque, na época em que a filósofa francesa escreveu os dois volumes de "O segundo sexo" e viveu (09 de janeiro de 1908 até 14 de abril de 1986), a homossexualidade ainda era tratada como doença e não havia sido iniciada a corrida para tentar encontrar a causa genética da mesma, o que culminaria na recente hipótese da homossexualidade epigenética, sobre a qual escrevi um texto, "A homossexualidade epigenética: Algumas considerações".
   Aliás, apenas alguns anos após a morte de Simone de Beauvoir, em 1991, para ser mais exato, o neurocientista anglo-americano Simon LeVay examinou a zona chave da sexualidade no cérebro (o hipotálamo) em heterossexuais e homossexuais, descobrindo que havia diferença entre eles: a região INAH-3 era de 2 a 3 vezes menor nos homossexuais. Claro, havia limitações no experimento em questão, mas ele abriu portas para outros estudos.
   Tanto que, em 2008 um estudo do Instituto Karolinska, da Suécia, demonstrou que o cérebro de homens heterossexuais é igual ao de mulheres homossexuais, bem como que o de homens homossexuais é igual ao de mulheres heterossexuais.





   E, já que estamos falando de estudos, retomando a questão do papel de gênero e da identidade de gênero como sendo a mesma coisa e tratada como mero construto social, existe um experimento (o mesmo que mencionei na primeira seção deste texto), que, embora pretendesse provar que o psicossocial (e não meramente o social) se sobreporia ao biológico, teve consequências comprobatórias de que nada poderia ser menos verdadeiro e que, sim, o biológico desempenha papel fundamental: estou falando do caso de um menino canadense que, após um acidente durante um procedimento de circuncisão,  foi criado pelos pais como se fosse uma menina.



David Reimer: O experimento de John William Money

   Esse caso aconteceu nos anos 1960 e o menino em questão nasceu Bruce Reimer e tinha Brian Reimer como gêmeo. Os médicos utilizaram uma agulha elétrica durante o procedimento de circuncisão de Bruce e acabaram queimando completamente o pênis do menino. Posteriormente, os pais dele, Janet e Ron, procuraram o psicólogo John William Money, que era especialista em mudança de sexo e acreditava que não era tanto a biologia que determinava se alguém é homem ou mulher, mas sim a maneira como esse alguém é criado. Noutras palavras, para ele (naquele momento), o psicossocial tinha peso majoritário em relação ao biológico e, diga-se de passagem, foi ele quem cunhou os termos gender role (papel de gênero) e gender identity (identidade de gênero) [1].
   A partir daí, teve início a experiência que, se funcionasse, daria uma evidência irrefutável de que a criação poderia se sobrepor à biologia, Bruce sendo transformado em Brenda quando tinha 17 meses etários e castrado aos 21, Money exigindo de Janet e Ron que eles jamais contassem à Brian e sua irmã gêmea que ela havia nascido como menino.



Bruce/Brenda/David Reimer

   Entretanto, e como seria de se esperar, o experimento não resistiu à puberdade, quando Brenda começou a demonstrar toda a tristeza sentida e a ter impulsos suicidas, os seus pais revelando a verdade por trás de seu nascimento. Brenda, então, as 14 anos etários, decidiu transformar-se em David, passando por uma cirurgia de reconstrução peniana e até mesmo chegando a se casar, tornando-se padastro dos três filhos de sua esposa, já que não podia ter filhos.
   Esse caso ficou conhecido como "John/Joan" e, embora o relato de Money acerca do mesmo, em 1973, fosse que a criança em questão havia aceitado muito bem o papel que lhe fora dado, em 1997, uma dupla de pesquisadores forneceu um acompanhamento detalhado, informando que o menino em questão não apenas rejeitou a identidade feminina, como fez o já mencionado processo de reconstrução peniana.



Dr. John Money

   Com o caso vindo à tona, David Reimer descobriu que sua história havia sido imortalizada em livros de teoria médica e psicológica. Após os trinta anos, entrou em depressão e se divorciou da esposa. Em 2002, o seu irmão gêmeo morreu devido a uma overdose de drogas e, em 04 de maio de 2004, David cometeu suicídio. Dois anos depois, em 07 de julho de 2006, foi a vez de John Money falecer.
   Com isso, isto é, com o fracasso do experimento, pode-se concluir que 1) os fatores biológico e psicológico não podem ser ignorados, desempenhando papel importante e majoritário no indivíduo e que 2) sim, um indivíduo XX já nasce (com auto-entendimento de que é) mulher ou homem, bem como um XY já nasce (com auto-entendimento de que é) homem ou mulher. Mas, como para muitos só a exemplificação com esse experimento não basta, vamos falar de...



Gatos e javalis

   Lembram que eu disse que uma questão envolvendo outros animais seria retomada posteriormente e que, depois, eu disse que aquela interpretação feita por muitos "entendidos" é errônea também por criar um sério problema envolvendo outros animais de hábitos sociais? Então, chegou a hora de tratar disso. E por qual motivo? Porque, reitero, não basta mostrar um estudo que comprova que o papel de gênero e a identidade de gênero não são meros construtos sociais, fazendo-se necessário mostrar outros indícios de que sim, a biologia desempenha um forte papel em ambos.
   E para começar essa parte da conversa, acredito que, por mais que outros animais possam e visivelmente sejam pensantes, uma das muitas diferenças entre eles e nós, "homens que sabemos que sabemos" [2], seja a capacidade de pensar acerca de si mesmo e de sua própria condição, organização e comportamento. Noutros termos, o Homo sapiens sapiens é (até que se prove o contrário) o único que pensa sobre a sua estrutura social, a registra e, se necessário, a reorganiza - onde dá. Sim, porque outros animais sociais não fazem isso.
   Eu poderia mencionar as sociedades das abelhas, das formigas e dos cupins como exemplos, mas é preferível fazer uso de animais mais complexos e, preferencialmente, mamíferos. Para isso, escolhi os gatos e os javalis. Os primeiros porque eu crio gatos desde que me entendo por gente e já criei várias pequenas colônias deles (já cheguei a ter quinze gatos de uma só vez), de modo que posso falar sobre o comportamento social dos mesmos. Os segundos, por outro lado, foram escolhidos porque a organização social dos mesmos permite traçar um paralelo interessantíssimo com certo mito grego.



Das amazonas aos javalis


Juliana Alves como Mulher Maravilha,
personagem que é uma Amazona de Themyscira.

   Tenho certeza de que você já ouviu falar no mito das amazonas. Pois bem, antes de tal raça de mulheres guerreiras ser transplantada para a região Amazônica [3], esteve viva no imaginário dos gregos antigos.


Filhas de Ares e da náiade Harmonia, segundo alguns, essas guerreiras viviam na Capadócia, às margens do Termodão, e conquistaram vastos territórios até a Ásia Menor, às margens do Mar Negro. Tinham o hábito de comprimir (ou queimar) o seio direito desde a infância, de forma a facilitar o manejo do arco. (JULIEN. 2005, p.18)


   Acontece que sempre se precisou explicar como diabos uma raça constituída unicamente por mulheres vivia além de uma geração. Como elas se perpetuavam? Bem, uma das explicações mais populares era a de que elas se relacionavam sexualmente com homens das regiões vizinhas em determinada época do ano e levavam a criança nascida desse relacionamento consigo, caso fosse uma menina, pois, do contrário, deixavam com o pai.


Usando capacete e armadura, arcos de bronze e escudos em forma de meia-lua, foram as primeiras mulheres a utilizar cavalos. Sem fé nem lei, vivendo de pilhagem, constituíam tribos matriarcais que se perpetuavam por breves relações, uma vez por ano, com os homens das regiões vizinhas, aos quais devolviam os filhos do sexo masculino, mantendo consigo apenas as filhas, que eram, desde muito cedo, treinadas para a caça e a guerra.
(...)
As amazonas que sobreviveram ao massacre atribuído a Héracles refugiaram-se nas montanhas da Albânia, perto de Colchi. algumas delas estabeleceram-se aos pés do monte Cáucaso, enquanto seus vizinhos, os gargarenses, subiam na direção norte. Todos os anos, na primavera, os dois grupos se encontravam no alto da montanha que separava seus territórios, para uma co-habitação de dois meses, e uniam-se após um sacrifício ritual. Assim que uma amazona ficava grávida, voltava para seus país. Os homens que nasciam eram confiados aos gargarenses. (JULIEN. 2005, p.18)


   E onde raios entram os javalis nisso? A estrutura social na qual vivem os javalis, também chamados de facóceros, se assemelha, e muito, à da sociedade amazona. Basicamente, a sociedade dos javalis, é matriarcal e quem manda nela é a maior e mais velha fêmea - aliás, as fêmeas são chamadas de javalinas ou girondas. Os machos jovens acompanham o grupo, mas não tem lá grande participação, enquanto os machos adultos vivem solitários, juntando-se ao bando somente na época do cio (de novembro a janeiro).





   Não disse que dava para traçar paralelo entre a sociedade das amazonas e dos javalis, ou melhor, das girondas? E agora, como explicar essa organização social? Ela não tem qualquer relação com o biológico? Se não tem, os javalis são como nós, dotados de psique e idêntica capacidade de raciocínio, tendo se organizado deliberadamente nessa estrutura social? Eu acho que não!



Gatos, gatinhas e gatões

   O leão [4] é um animal dos mais conhecidos, sendo considerado "um animal solar repleto de qualidades divinas; símbolo do poder real e do domínio, vitória militar, bravura, vigilância e fortaleza. Emblema real da Inglaterra, da Escócia e do poder imperial britânico no século XIX. Na China e no Japão, o leão é protetor." (O'CONNEL; AIREY. 2010, p.243). Além disso, é o mascote da Grifinória (Gryffindor, no original) e do Sport Clube do Recife. Como símbolo cristão, aparece na expressão "o leão de Judá" e como alusão ao messias Jesus Cristo na série de livros "As Crônicas de Nárnia".





   A organização dele também é muito conhecida: basicamente, tem-se uma sociedade constituída por um macho dominante, as fêmeas (leoas) e os filhotes, sendo que "cada grupo de leões é composto por cerca de 15 adultos, dos quais de 10 a 12 são fêmeas e de 03 a 05 são machos" (IWAKURA, 2015), mas "um grupo pode ser composto por até 40 indivíduos, as fêmeas sendo a maioria" (NINHA).





   E são elas, as leoas, que empreendem a caça - por serem mais leves e, consequentemente, velozes que o leão, o qual pode se atrapalhar e ficar superaquecido por causa da juba [5]. Entretanto, "o leão macho, líder do grupo, é o primeiro a comer, seguido pelas leoas mais fortes, as mais fracas e os filhotes, nessa mesma ordem" (IWAKURA, 2015). Só que nem todas as leoas caçam, algumas atuando como amas de leite de suas crias e das crias das outras fêmeas. Quanto aos leões, cabe a eles fazer a defesa do grupo contra grupos constituídos somente por leões-machos e eliminar rivais, como hienas, cachorros-selvagens africanos e guepardos.
   Mas por qual motivo estou falando dos leões e não dos gatos? Além do fato de leões e gatos pertencerem à mesma família, a Felidae, aqueles são os mais sociáveis dentre os grandes felinos e a sua organização social é bem parecida com o que eu já observei nos meus gatos: além de serem capazes de manterem certa união por laços de parentesco, observa-se a dominação exercida por um macho no grupo, o mesmo enfrentando ameaças externas ao território (i.é: outros gatos machos), enquanto as fêmeas mostram-se mais propensas a empreender caçadas (baratas, lagartixas - também chamadas de osgas, ratos, pássaros e outros, exceto sapos adultos) e não se negam a amamentar filhotes de uma parente (quando uma gata minha, Eevee, foi - provavelmente - roubada ainda lactante, a mãe dela, Mimi, que tinha parido nova ninhada no mesmo período, assumiu a amamentação dos seus cinco netos).
   E, para o caso de meu registro não ser o suficiente, sobretudo para quem crê que gatos sejam bichos solitários e antissociais:


Até os anos 80, devido à capacidade de sobreviverem de forma solitária, alguns autores atribuíram erroneamente ao gato doméstico a classificação de espécie não-social (BEAVER, 1992). Todavia, significativos estudos nas últimas décadas comprovaram que embora o gato doméstico possa sobreviver sozinho, comumente são formados grupos sociais, ou colônias, com estrutura social interna complexa e a presença de diversos padrões comportamentais típicos de espécies sociais (CROWELL-DAVIS; CURTIS; KNOWLES, 2003). (DANTAS. 2010, p.12).


   A complexidade da estrutura social interna talvez possa ser vista, por exemplo, quando a colônia tem indivíduos suficientes para a formação de facções. Na única vez em que vi isso acontecer explicitamente, os gatos organizaram-se na facção liderada pelo gato dominante (o pai ou avô dos demais, o finado Fred), que contava com uma espécie de braço direito e capanga (neto ou talvez filho-neto dele, Leo, outro dos meus gatos que provavelmente foi roubado), enquanto a segunda facção, opositora, era formada pela maioria dos demais gatos, a terceira se comportando de maneira neutra.
   Também é importante mencionar outra informação dada por Dantas (2010, p.12):


Praticamente todos os estudos de registro de comportamento em gatos domésticos têm sido feitos com animais de laboratório ou em populações ferais (BRADSHAW, 1992), não sendo sempre possível a extrapolação para gatos domiciliados (CARO, 1981).


   Mas, voltando, entre gatos e gatas também é possível relacionar as seguintes diferenças comportamentais [6], principalmente quando adultos:
   1) Eles somente urinam do mesmo modo que elas (isto é, sentados) se forem submissos, pois o macho dominante marca seu território urinando, sendo que faz isso dando uma levantada no rabo e balançada no seu "instrumento de demarcação territorial";
   2) Como eles precisam defender o seu território, são mais propensos a brigar (o que não significa que uma gata não seja boa de briga ou não dê umas porradas num macho - ou mais de um - quando necessário, como para apartar a briga entre dois irmãos);
   3) Tanto eles quanto elas podem sair de casa para perambular pela vizinhança e sumir por horas ou dias, só que, enquanto elas geralmente fazem isso para acasalar, eles fazem isso também para marcar e defender seu território;
   4) Enquanto eles (assim como outros felinos e outros mamíferos) cheiram a genitália delas para descobrir sua fertilidade, elas, quando no cio, tendem a emitir ruídos estranhos e fazer certo charme para eles, o que envolve girar o corpo pelo chão e mesmo a permissão para que ele lhe faça carícias (lambidas durante longo tempo e de cabo a rabo), além de dormirem (dormir mesmo, sonar, tirar um cochilo) juntos (tive uma gata, Mihi, que só permitia que um gato, Mew, dormisse com ela e a lambesse, a mesma retribuindo as lambidas; outra gata, que acabou de parir, fazia charme para dois gatos, Miau e Thil, mas parecia dar preferência para o paciente e mais velho Miau, meio que "só brincando" com a cara do pobre e finado Thil);
   5) Elas fazendo ou não o charme e o "chamado do acasalamento", eles costumam tomar a iniciativa, tentando morder o pescoço da fêmea e montar na mesma - nunca vi uma gata tentando montar num gato (para estimular o mesmo a acasalar) como já vi uma cadela fazer com um cachorro;
   6) Eles são mais propensos a ficar escalando as coisas e - se deixar - são capazes de ficar dias no telhado, enquanto elas até sobem, mas parecem preferir ficar pelo chão.



Encontrei essa foto no Google.

   Ou seja, muito embora leões e gatos visivelmente tenham uma capacidade cognitiva elevada, não é possível afirmar que eles deliberem acerca da estrutura social de que fazem parte, de modo que a notória divisão de papeis entre machos e fêmeas em seus agrupamentos não pode ser "mero produto de construção social", esse comportamento, assim como o dos javalis, sendo instintivo.



Concluindo

   Sim, Simone de Beauvoir foi uma grande estudiosa e fez importantes contribuições, mas isso não significa que suas obras não devam ser questionadas, criticadas, contra-argumentadas ou mesmo refutadas, se for o caso. Absolutamente nenhum estudioso, cientista, está acima disso - aliás, é assim que a ciência progride, de modo que tomar qualquer proposição ou proposições específicas como verdades absolutas é perigoso e pouco (ou nada) científico. Fazer isso a partir de interpretações equivocadas e confusões entre conceitos, então, não apenas é perigoso e pouco (ou nada) científico, como catastrófico.





   E como pode ser visto a partir de evidências na natureza, e mais especificamente em outros animais sociais, e no experimento empreendido pelo estudioso que cunhou termos fundamentais para a Teoria de Gênero, a proposição da filósofa francesa não pode ser tomada como uma verdade absoluta e pétrea - principalmente se considerarmos à interpretação, ou melhor, a confusão que muitos defensores quase fanáticos da supracitada Teoria fazem, tomando papel de gênero e identidade de gênero como uma coisa só!
   É verdade que existem coisas no comportamento de homens e mulheres que são convencionados socialmente, mas quando olhamos o todo juntamente com os fatores psicológico e biológico, a conclusão a que se chega é que tais coisas existem numa quantidade pequena se comparado às que estão relacionadas aos outros dois. Eu arriscaria dizer que o comportamento humano é definido pelo fator biológico (leia-se: fatores genéticos, epigenéticos, influência de bactérias, etc.) em algo em torno de 60 a 70%, o psicológico ficando com algo em torno de 20 e 30%, enquanto as convenções sociais corresponderiam a 10% - mas essa parte é minha especulação.
   Ou seja, tanto um macho humano pode nascer homem (e será considerado "cisgênero", embora o termo mais adequado fosse "cissexual") ou mulher (sendo classificado como "transexual"), quanto uma fêmea humana pode nascer mulher ("cisgênera" ou "cissexual") ou homem (transexual), isso não é uma coisa determinada pela sociedade, mas sim pelo conjunto biopsíquico.
   Agora, quanto às convenções sociais, como que roupa, corte de cabelo ou palavras utilizar, cabe a cada indivíduo decidir, e a imensa variação dessas coisas entre as diversas sociedades humanas é maior prova de que tais usos e costumes são de ordem social - não as únicas, mas talvez as principais.
   Para encerrar, deixo-os com links para dois vídeos de teor contributivo sobre a questão:



   Neste primeiro vídeo, tem-se a primeira parte de um documentário norueguês, a qual trata do paradoxo da igualdade de gênero. Nele é possível ver certo esforço que alguns fazem para tentar sobrepor o social ao psicobiológico e mesmo negar qualquer coisa que venha deste último.


   Neste aqui, tem-se um trecho da entrevista da ensaísta e crítica cultural Camille Paglia ao Roda Vida Internacional, em 22 outubro de 2015, trecho no qual é possível ver, por meio da expressão utilizada pelo entrevistador, Paulo Werneck, como existe confusão entre transgênero e transexual, mas especificamente quando ele fala em "cultura transgênero". A resposta da ensaísta é simplesmente fantástica. O vídeo na íntegra pode ser conferido no canal do Roda Viva no Youtube.




NOTAS

[1] Segundo a Enciclopédia Britânica, ele também "foi o primeiro cientista a propor uma relação entre fatores biológicos e ambientais na determinação da sexualidade, argumentando que as expectativas sociais interagiriam com os genes do indíviduo para afetar a expressão hormonal e, assim, a sexualidade".

[2] Ou Homo sapiens sapiens.

[3] Que recebeu seu nome a partir do rio Amazonas, antes Rio das Amazonas e, antes de Francisco de Orellana alegar ter lutado contra mulheres guerreiras em suas margens, Rio Maranon. Tais mulheres guerreiras constituiriam uma tribo sem homens e eram chamadas de Icamiabas, isto é, "mulheres sem marido". Julien (2005, p.19) diz que, no mesmo período, alguns exploradores assinalaram a existência, no Orenoco, na Amazônia, de tribos de mulheres com hábitos muito semelhantes aos das amazonas. Além da América, ela também menciona tradições que confirmam a presença de mulheres-soldados na Ásia, na África (incluindo no Dahomey, as quais teriam desaparecido durante a colonização francesa) e mesmo na Europa (algumas mulheres que formavam uma corporação militar sob a ordem de Vlasta, na Boêmia do século VIII).

[4] Nos últimos 16 anos veio à tona a homossexualidade em diversos animais, incluindo os leões, mas é importante ressaltar duas coisas quanto à homossexualidade nos animais: 1º) Não dá pra chamar esse comportamento de homossexual, pois, em boa parte dos casos, observou-se que os indivíduos mantinham contato sexual com indivíduos do outro sexo mesmo quando constituíam casais homossexuais, de modo que o mais acertado seria classificá-los como bissexuais; 2º) Somente duas espécies apresentam comportamento que realmente pode ser considerado homossexual, no caso, a espécie Homo sapiens sapiens e o carneiro.

[5] A não ser que, conforme informa Iwakura (2015), se trate de um leão-tsavo, um tipo de leão que vive perto do Rio Tsavo, no Quênia, e cujos machos não possuem juba, caçando juntamente com as fêmeas.

[6] Observei melhor isso nos meus gatos mais recentes, pertencentes a uma linhagem iniciada em 2012 e que está, agora, na quarta geração (e quinta ninhada).





REFERÊNCIAS

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