segunda-feira, 12 de outubro de 2015

6 ótimos desenhos comerciais da década de 80

   Tirando um ou outro espécime, pode-se dizer com segurança que as séries animadas infantis das duas primeiras décadas do terceiro milênio (de 2001 em diante) são uma verdadeira porcaria desprovida de conteúdo, do tipo que mereceria ser retirada das grades televisivas com um papel higiênico, atirada no vaso sanitário mais próximo e levada ao esgoto pela descarga - se bem que tais produções talvez não mereçam tanto desperdício de água, sendo melhor queimar ou enterrar.
   Enfim, essa constatação é mais do que difundida por aí, seja no seio familiar, durante uma conversa casual entre membros de gerações mais velhas, seja durante uma resenha entre amigos ou em comentários nas redes sociais e outros locais da internet, quase sempre ficando no ar a questão chave: Por qual motivo os desenhos animados de antigamente eram muito melhores do que os de hoje em dia?
   Há quem arrisque responder dizendo que tudo não passa de uma mudança no olhar do indivíduo, que já foi criança e, hoje, como adulto, enxerga a coisa de outra maneira, não tendo a mesma paciência para desenhos, enquanto outros afirmam que a coisa toda se dê por conta de um exagero na produção de animações que têm a promoção de brinquedos e outros produtos infantis como prioridade, ao invés do entretenimento.
   Entretanto, discordo tanto de uma explicação quanto de outra. Pode-se usar como argumento contra a primeira o fato de que os adultos ainda gostam de assistir os desenhos antigos quando sentam para fazer isso. Aqui, alguém poderia argumentar que tem aqueles que embelezam tudo o que assistiram quando eram crianças - e realmente tem quem faça isso, mas também tem quem não faça, estes últimos sendo a maioria, acho.
   Quanto à segunda explicação, não apenas é possível argumentar que no século passado (1901-2000) quase todas as animações produzidas com o intuito de promover algum brinquedo ou que dele foram derivadas eram boas (com boas estórias, personagens marcantes, etc), como este texto objetiva listar tais séries animadas, a minha opinião sobre o porquê da ruindade dos desenhos atuais se encontrando depois dela.
   Antes, devo dizer que a lista não é qualitativa, isto é, não estou dizendo que a série animada A é melhor que a B, apenas listei as produções do século passado que se originaram a partir de linhas de brinquedos e jogos eletrônicos anteriores aos anos 90, ou seja, não inclui o desenho baseado em certo jogo do Mário, nem "Pokemon", "Em que lugar da Terra está Carmem Sandiego?" e outros, da mesma forma que não incluí o clássico "Caverna do Dragão", pois este, apesar de ser anterior aos anos 90, foi baseado no RPG "Dungeons & Dragons", não numa linha de brinquedos ou jogo eletrônico. Dito isso, vamos à lista:



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He-Man e os Mestres do Universo She-Ha


   No livro "Mastering the Universe: He-Man and the rise and fall of a billion-dolar idea", o próprio criador do He-Man, Roger Sweet, conta como ele criou a personagem e, basicamente, a história começa em 1976, quando o então presidente da Mattel, Raymond Wagner, recusa um pedido para a empresa fazer uma nova linha de brinquedos para um filme que seria lançado e cujo nome era... Star Wars.
   Depois de ver a burrada que tinha feito, Raymond convoca os principais designers da empresa e os desafia a criar um novo produto que reerguesse a Mattel no mercado, chamando o projeto de "a nova aposta da Mattel". Um dos designers, Roger Sweet, então cria um protótipo de boneco, a partir do qual faz três conceitos: um boneco estilo militar, outro em estilo bárbaro e outro em estilo homem do espaço.
   Na reunião de apresentação dos projetos dos designers, o presidente da empresa ficou com a atenção presa a um dos protótipos desenvolvidos por Roger, o boneco bárbaro, e diz a frase "I like this... He has the power!" (Eu gosto deste... Ele tem o poder!), a qual mais tarde seria homenageada pelo célebre grito de He-Man: "Eu tenho a força!" ("I have the power!", no original).



O primeiro molde do He-Man, feito por Roger Sweet, era moreno.

   A partir de então, a Mattel concentrou esforços e dinheiro na produção da linha de brinquedos "Masters of the Universe" (Mestres do Universo), que foi lançada em fevereiro de 1982, sendo pedido para o estúdio Filmation fazer um comercial para a TV. Nesse "começo de franquia", os bonecos eram vendidos em conjunto com mini-gibis que contavam histórias dos personagens (disponíveis no site old.he-man.org).
   Só que, como a venda dos produtos ainda não estava lá essas coisas, a Mattel, então, encomendou com o Filmation um desenho animado, que foi produzido com uma das técnicas mais avançadas da época, a rotoscopia, sendo lançado em 1983 e fazendo as vendas dos brinquedos dispararem. (nos gibis, he-man não possuía identidade secreta, isso sendo coisa do desenho).





   No Brasil, o desenho foi primeiramente exibido na "Turma do Balão Mágico" (1984 a 1986), depois no "Xou da Xuxa" (1986 a 1993) e na "TV Colosso" (1993 a abril de 1996) . Em 1985 foi lançado She-Ha, série protagonizada pela irmã gêmea de He-Man e também produzida pelo Filmation, mas com foco no público feminino - cabe aqui dizer que, porque o desenho da She-Ha se situa no mesmo universo do desenho de He-Man e ter se originado dele, considerei-os como uma coisa só, uma única produção originária de uma mesma linha de brinquedos.
   Por fim, em 1989 foi lançada uma nova versão do desenho animado, "As Novas Aventuras do He-Man", em 2002 sendo lançada a versão moderna, em comemoração pelos 20 anos da franquia.





Fonte:


Canal Você Não Sabia? He-Man! Publicado em: 23 Nov 2012. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=M-rZLRqG4Bc>. Acesso em: 12 Out 2015.



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Transformers


   A história da franquia tem início no Japão, com a empresa Takara e duas de suas séries de brinquedos transformáveis: "Diaclone" e "Microman". Nenhuma das linhas possuía qualquer contexto acerca das personagens e, tampouco, divulgação. Foi então que, em 1983, a empresa estadunidense Hasbro participou da feira Tokyo Toy Show, se interessou por essas linhas de brinquedos da Takara e fechou parceria com a mesma, comprou as mesmas, algo do tipo. De qualquer modo, ambas as linhas foram fundidas numa só, batizada como "Transformers", mas, diferentemente da empresa japonesa, a Hasbro resolveu investir em divulgação, afinal de contas, propaganda é a alma do negócio.





   Assim, como o trabalho com a Marvel Comics para a produção de histórias em quadrinhos de G.I.Joe havia dado certo e feito enorme sucesso, Jim Shooter (editor-chefe da Marvel na época), Dennis O'neil e Bob Budiansky foram chamados para criar em conjunto uma história principal para a linha de brinquedos (coisa que o Jim e o Dennis fizeram), bem como o perfil e o nome para cada um dos transformers (coisa feita pelo Bob). As ilustrações ficaram a cargo de Floro Dery.





   Mas a divulgação não seria feita somente através de histórias em quadrinhos, a Hasbro encomendando um desenho animado, que foi produzido pela "Sunbow Production" e lançado em 1985. "Transformers: O filme", que contou com dublagem do diretor Orson Welles, foi lançado em 1986. A produção do desenho animado prosseguiu nas mãos estadunidenses até 1987, quando foi assumida pelos japoneses. Posteriormente várias outras produções foram feitas.

Fontes:


G1. Desenho 'Transformers' volta à TV nos EUA. Publicado em: 25 Jun 2007. Disponível em: <http://g1.globo.com/Noticias/PopArte/0,,MUL58623-7084,00-DESENHO+TRANSFORMERS+VOLTA+A+TV+NOS+EUA.html>. Acesso em: 12 Out 2015.

"GreatToysMall". Transformers: A history of the toys, movies and cartoons. Publicado em: 16 Fev 2012. Disponível em: <http://greattoysmall.hubpages.com/hub/Transformers-A-History-of-the-Toys-Movies-and-Cartoons>. Acesso em: 12 Out 2015.

Jovem Nerd. Goonies e Nostalgia Transformers. Nerd Office. Temporada 05, Episódio 11. Publicado em: 16 Abr 2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=PL7SKGFhg7Q>. Acesso em: 12 Out 2015.


RODOX. Transformers begins: Como tudo começou. Publicado em: 21 Jul 2014. Disponível em: <http://www.proibidoler.com/cinema/transformers-begins-como-tudo-comecou/>. Acesso em: 12 Out 2015.



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Visionários: Os cavaleiros da luz mágica

   Exibido no Brasil pela Globo, dentro do "Xou da Xuxa" e em 1988, "Visionaries: Knights of the magical light" tem apenas 13 episódios e foi co-produzido pela Marvel em associação com Sunbow em 1987, como marketing encomendado pela Hasbro para uma nova linha de brinquedos, de mesmo nome, que acabou não vendendo muito. A Marvel também produziu histórias em quadrinhos, publicadas primeiramente pelo selo Star e, depois, pelo selo oficial.







Fontes:

CAVICHIOLI JUNIOR, Odair. Visionários: Os cavaleiros da luz mágica. Publicado em: 27 Fev 2013. Disponível em: <http://www.odaircavichioli.com.br/2013/02/visionaries.html#.VhvEQuxViko>. Acesso em: 12 Out 2015.

MOFOLANDIA. Cavaleiros da luz mágica. 2000 - 2012. Disponível em: <http://www.mofolandia.com.br/mofolandia_nova/visionaries.htm>. Acesso em: 12 Out 2015.



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Zillion

   Exibido no Brasil pela Globo e pela Gazeta, o anime Zillion teve os seus 31 episódios originalmente apresentados, no Japão, pela Nippon Television, entre abril e dezembro de 1987.





   Produzido em parceria pela Tatsunoko Production e a Sega, que pretendia alavancar as vendas de seus produtos, entre os quais o console Master System e um brinquedo que vinha com uma pistola, a "Light Phaser", e um sensor eletrônico.






Fontes:

TV Sinopse. Zillion: Akai kodan Zillion. Disponível em: <http://www.tvsinopse.kinghost.net/z/zillion.htm>. Acesso em: 12 Out 2015.

"ZWEIST". Zillion. Publicado em: 05 Fev 2015. Disponível em: <http://www.superamiches.com/zillion/>. Acesso em: 12 Out 2015.




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Dino-Riders

   Basicamente contando a história de um conflito entre duas raças, os rulons e os valorians, que se utilizavam de dinossauros, os 14 episódios do desenho foram exibidos nos EUA no fim de 1988, sendo que foram produzidos pela Marvel sob encomenda da Tyco, que queria promover as vendas da sua nova linha de brinquedos.



Um anúncio publicitário para o desenho animado.

Fontes:

Dino-Riders World. Synopsis. Disponível em: <http://www.dinoridersworld.com/cartoons-synopsis.html>. Acesso em: 12 Out 2015.



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G.I.Joe

   Assim como em Português se utiliza nomes como "José" e sua forma diminutiva "Zé" ou, ainda, "João" para se referir genericamente a homens, como em "zé ninguém", "joão-bobo" e "joão-sem-braço", entre outras, em Inglês há a utilização de nomes como John (equivalente a "João") e Joe (equivalente a "Zé"). Uma das expressões inglesas envolvendo este último nome é "Government-Issue Joe", a qual se refere ao funcionário típico e fora abreviada como símbolo taquigráfico durante a II Guerra Mundial para G.I.Joe.
   Em 1945, mesmo ano em que a II Guerra Mundial chegou oficialmente ao fim, foi lançado o filme "Story of GI Joe", conhecido no Brasil como "Também somos seres humanos". Foi esse filme que posteriormente serviu de inspiração para a Hasbro desenvolver sua linha de bonecos para meninos, as famosas "figuras de ação", iniciada em 1963.





   Porém, foi somente na década de 80 que a linha de figuras de ação, agora chamada "G.I. Joe: A real American hero" ("G.I. Joe: Um herói americano real" ou "G.I. Joe: Um verdadeiro herói americano") ganharia o seu próprio desenho animado, pensado para promovê-la e alavancar as vendas, sendo produzido pela Marvel em conjunto com a Sunbow e exibido de 1985 até 1986, o filme "G.I. Joe: The movie" sendo lançado em 1987. Ah, a história em quadrinhos foi lançado antes, em 1982.



Fontes:

FLETCHER, Dan. A brief history of G.I.Joe. Publicado em: 07 Ago 2009. Disponível em: <http://content.time.com/time/nation/article/0,8599,1915120,00.html>. Acesso em: 12 Out 2015.

IMDB. Também somos seres humanos (1945). Disponível em: <http://www.imdb.com/title/tt0038120/>. Acesso em: 12 Out 2015.

TV Tropes. Franchise: G.I. Joe. Disponível em: <http://tvtropes.org/pmwiki/pmwiki.php/Franchise/GIJoe>. Acesso em: 12 Out 2015.



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   Quanto à minha teoria para o porquê de tamanha ruindade dos desenhos infantis do século XXI, bem, acredito que seja por causa de um misto de crise de criatividade com "encurralamento" promovido pela pressão de grupos diversos (o principal dos quais talvez seja o do "politicamente correto"), sendo que a mencionada crise de criatividade não atinge apenas o hemisfério ocidental, mas também o oriente e a indústria de games japoneses e animes, como é discutido no vídeo (e nos comentários do mesmo) "Quem é o culpado pelo fim da era dos animes?/OmeleTV #328.2", a seguir:




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