quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Alexandre Vaz Tavares e o Dia Estadual da Poesia

     A poesia é homenageada em diferentes dias, aos níveis mundial (21 de março), nacional (14 de março) e estaduais. No Amapá, a Lei N. 580 de 21 de junho de 2000 instituiu a celebração na data de 08 de agosto, por conta do nascimento de Alexandre Vaz Tavares (n: 08/08/1858 - m: 03/04/1926), poeta e médico, também foi professor de química da Escola Normal de Belém (1890), Deputado Estadual (1891), Diretor de Instrução Pública do Pará (1895), Diretor da Secretaria de Saúde Pública do Pará (1916) e Prefeito de Macapá (30/04/1920 - 16/06/1921).




   Não sendo a primeira homenagem já prestada ao poeta, que teve seu nome dado pelo Governador do Amapá Janary Gentil Nunes a um dos estabelecimentos de educação no bairro macapaense do Trem, ela tem, porém, outro significado na medida em que se atribui a Alexandre Vaz Tavares o pioneirismo por versar sobre Macapá. Neca Machado (2006) atribui essa afirmação ao primo do poeta e médico, o também médico Acylino de Leão.
   Aliás, segue o poema Macapá, publicado na Revista Educação e Ensino do Pará, em Agosto de 1889:


MACAPÁ

Na esquerda margem selvosa
Do Rio-mar, o Amazonas,
Pensativa e descuidosa
Como essas gastas madonas
Das noites de bacanal,
Descansa da actividade
Dos anos, na nova idade,
A minha amada cidade,
Minha cidade natal.

Para Leste orientada,
Em face encara o Nascente,
De onde lhe envia a Alvorada
Um beijo róseo-nitente
Em cada raio de Sol.
À noite, a Lua de prata
Fios de perolas desata
Por entre a florida mata
Onde dorme o rouxinol.

Ao Oiapoque, o guiano,
Vão seus solos marginais,
Que se prolongam, no plano
Na das divisões boreais,
Em serras em alcantil.
A Oeste, vastas campinas,
Amplo tapiz de boninas,
com pingues raças bovinas,
Riquezas e encantos mil.

Por atalaia gigante
Ou por sinal de defesa,
Do granito mais possante
Levanta uma FORTALEZA
Negras muralhas ao Sul.
Outrora, adornadas de aço,
Faziam troar o espaço
Dos canhões seus co o fracasso,
No vasto horizonte azul.

Outrora, quando ascendia
Sobre aquela grimpa ingente,
Entre os sons da artilharia
O pendão aurifulgente,
O auri-verde pavilhão;
Trajava a cidade inteira
Alva roupagem faceira,
Pela data brasileira,
Ou festa de devoção.

Então, que alegre não era
Ver-se o lêdo rodopio,
Em manhãs de primavera
Ou nas tardinhas do estio,
De um povo em festa a folgar:
Moças, com laços de cores,
Raparigas com mil flores,
Rapazes buscando amores...
Tudo era rir e brincar!

Hoje... Lá jaz o colosso
Quase em total abandono,
Formando quase um destroço
Na triste mudez do sono
Do desprezo mais cruel.
É correção de soldados,
É presídio de forçados,
É terror de condenados
De criminosos, quartel.

Hoje o bronze já não salva
Da gallharda bateria,
Quer assome a Estrela d’Alva,
Quer venha a findar o dia.
Não fosse a luta feral
Do Rio-mar com a procela,
Ou os brados da sentinela
Quando, acaso, a noite vela,
Fora tudo em paz mortal...

.................................................
Maldito! Maldito seja
Vezes mil um tal Governo
Que insaciável deseja
Céus e terra e até o averno
Desfeitos em ouro só!...
Maldito, porque os legados
Dos nossos antepassados,
Em vez de serem zelados,
São desprezados sem dó!

Sim! Maldita a Monarquia,
Aleijão dos privilégios
Que cegamente confia
Aos fátuos caprichos régios
A sorte de uma Nação.
Ao sistema – imperialismo,
Ao torpe maquiavelismo
D’El-Rei Senhor – Egoísmo,
Maldição! Sim, maldição!...

Dorme, Cidade, e em teu sono
Sonha os fulgores de outrora...
Veneza já teve um trono,
Já foi dos mares senhora
E as nações já leis ditou:
Mas, hoje... ei-la: descansa,
Rememorando a pujança
Do fastigio, que a mudança
Dos tempos lhe arrebatou...

Dorme!... Tens aos teus pés prostrado
O Rio-mar, bardo eterno,
Que entoa sempre inspirado
Ora, o canto mais galerno,
Ora, os hinos do tufão...
Dorme aos sons das cavatinas
Das aves entre as cortinas
Dessas florestas divinas.
De teu risonho sertão!

(Alexandre Vaz Tavares. Agosto de 1889. Revista de Educação e Ensino do Pará)


   Este ano a data será comemorada pelo Movimento Poesia na Boca da Noite, sábado, de 17h00 até 19h00, no entorno da Fortaleza de São José, contando com piquenique poético, leitura e declamação de poemas de autores amapaenses, varal de poesias, distribuição de brindes poéticos, etc. Maiores informações podem ser obtidas através da caixa de comentários do post "Sábado é o Dia Estadual da Poesia", no blog de Alcinéa Cavalcante ou pelo e-mail alcinea.c@gmail.com.
   Só que essa comemoração não será a única atividade poética do fim de semana, pois o grupo poético e musical Poetas Azuis promoverá o Recital dos Verões, que acontecerá no Teatro Marco Zero (bairro Perpétuo Socorro), nos dias 07 (sábado) e 08 (domingo) de agosto, de 20h00 até 23h00, contando com as participações de: Silmara Lobato, Lara Utzig, Mahely e Cássia C. Monteiro, no sábado, 07; e de Brenda Melo, Rebecca Braga e Deize Pinheiro, no domingo, 08.
   Os ingressos para o recital podem ser comprados a R$20,00 nas Lojas Fortunas (Amapá Garden Shopping) e na Livraria Acadêmica News (Macapá Shopping).







REFERÊNCIAS

CAVALCANTE, Alcinea. Sábado é o Dia Estadual da Poesia. Publicado em: 05 Ago 2015. Disponível em: <http://www.alcinea.com/poetas-do-amapa/sabado-e-o-dia-estadual-da-poesia>. Acesso em: 06 Ago 2015.

LÁZARO, João. Dr. Alexandre Vaz Tavares. Publicado em: 02 Mai 2011. Disponível em: <http://porta-retrato-ap.blogspot.com.br/2011/05/dr-alexandre-vaz-tavares.html>. Acesso em: 06 Ago 2015.

MACHADO, Neca. Dr. Alexandre Vaz Tavares. Publicado em: 31 Out 2006. Disponível em: <http://amigos.com/blog/3456/post_62223.html?lang=portuguese>. Acesso em: 06 Ago 2015.

MACHADO, Neca. Macapá. Publicado em: 25 Jan 2012. Disponível em: <http://macapaap.blogspot.com.br/>. Acesso em: 06 Ago 2015.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Grato pela leitura e pelo comentário. Assine o blog, siga-o e mantenha-se informado sobre novos textos. Até.